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Mulheres agredidas encontram oásis para recomeço no litoral de SP: ‘eu já não tinha mais sonhos’

today2 de março de 2023 7

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“Já passei por vários abrigos e em nenhum eu encontrei tanto respeito com cada uma de nós”, conta Andréia (nome fictício para proteger a identidade da vítima), de 35 anos. Ex-moradora de Salvador (BA) e de São Paulo (SP), ela fugiu do marido, o qual tem uma medida protetiva, para Santos com os dois filhos dela.

Andréia está abrigada na casa desde abril, porém, já passou por outros abrigos comunitários, tanto no município santista, quanto na capital. Ela conta que, em todos os locais, agia de forma “agressiva” com os demais.

“Eu tenho transtorno bipolar e ansiedade e não queria falar para ninguém sobre isso, então ficava no máximo 15 dias [nos abrigos]”. Ela conta que, a primeira coisa que fez ao chegar na Casa das Anas foi contar sobre seus transtornos psicológicos. Andréia passou a ser acompanhada pelo Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) e agora faz tratamento com medicação controlada todos os dias.



Andréia está abrigada na Casa das Anas desde abril deste anos, com dois filhos. — Foto: Caroline Melo/ g1

Segundo Andréia, a casa se tornou uma família e um local seguro. Agora, após ter feito alguns cursos, ela está em busca de emprego. “Já vai fazer quatro meses que eu estou aqui. Eu preciso de um trabalho para alugar uma casa para eu e meus filhos”, explica.

Andréia relata que o que quis quando chegou à casa abrigo foi uma “mudança”. “Eu não tinha sonho nenhum antes de vir para cá, não queria nada na vida. Mas agora quero sair daqui direto para minha casa com meus filhos”.

Moradora da Casa das Anas de Santos há oito meses, Jéssica se divide em fazer cursos e cuidar dos filhos. — Foto: Caroline Melo/ g1

Os sonhos de Jéssica (nome fictício), de 35 anos, sequer existiam, segundo ela. A possibilidade de sonhar foi apagada quando ela descobriu que estava grávida do quarto filho dias após o marido dela ser morto. Ela conta que passou por episódios de violência psicológica ao ter a casa onde morava em um morro de Santos invadida. “Era uma região de dificuldade social, onde o tráfico domina e o crime dominava e inclusive na minha casa também. Aí eu vim para cá [Casa das Anas] por não ter para onde ir”, explica.

Ela define a casa abrigo como um oásis, um lugar para respirar, ganhar força e voltar a caminhar. “Agora tenho um novo olhar sobre as coisas que aconteceram na minha vida. Eu cheguei aqui grávida e com três filhos. Eu me olhava com muita vergonha”, desabafa.

Moradora da casa há oito meses, Jéssica se divide em fazer cursos de qualificação, cujos certificados estão guardados em uma pasta já cheia, e cuidar dos filhos. “Meu filhos têm uma mãe muito melhor hoje com toda certeza. Eu consegui juntar os meus cacos aqui”.

Jéssica lembra que em um dos cultos realizados no local, a pregadora perguntou a ela quais sonhos ela tinha. “Eu até perguntei, com quatro filhos, você quer que eu sonhe o quê para mim?”. Hoje ela busca reviver um sonho de adolescência que estava há muito tempo esquecido, o de tirar a Carteira de Habilitação (CNH). “Com 19 anos, eu acabei conhecendo uma realidade muito diferente daquilo que eu deveria ter vivido. Amigos que me levaram para lugares errados e acabei esquecendo disso”.

Em busca de uma qualidade melhor de vida para os filhos, ela afirma que não sabe para onde vai após sair da casa abrigo, mas sabe explica que “o melhor ainda está por vir”.

A casa abrigo onde as duas mulheres estão acolhidas foi inaugurada em 2014, após um censo identificar que diversas mães que estavam em situação de rua necessitavam desse atendimento especializado. Com o tempo, ao abrigo passou a atender a demanda de mulheres que foram vítimas de diversas formas de violência.

A rotina na Casa das Anas é como em qualquer outra residência, enquanto as crianças vão à escola, as mães trabalham ou estudam nos cursos de qualificação ofertados e se dividem na limpeza dos quartos. O abrigo atualmente tem uma média de estadia de 2 anos e tem capacidade de 24 pessoas e se encontra lotado no momento.

Segundo a coordenadora da Ong Vidas Recicladas, Alcione Ferreira de Souza, há duas possibilidades para que as mulheres cheguem aos cuidados da Casa das Anas, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) ou pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua. “A perda do direito da mulher é muito complexa, traz muitas consequências para essa família”.

A partir daí, é feito o acolhimento e a escuta qualificada e, dependendo do caso, chama-se uma reunião com a rede de assistência social para que possa ser discutido o que deve ser feito. “Algumas delas é preciso ter um foco maior na qualificação para que a mulher possa se fortalecer e assim não precise depender mais desse violador”, explica Alcione. Por isso, segundo ela, há o serviço de qualificação para ampliar a independência financeira. Em outros casos, o foco pode ser a questão da saúde, que pode estar fragilizada.

“Sempre prezamos pela autonomia da mãe, que é a responsável pelas crianças”. Segundo ela, muitas vezes a vítima não percebe as violações de seus direitos, nem a gravidade do que lhe aconteceu e, por isso, o papel dos profissionais do local também é o de “sensibilizar as mulheres para que elas tenham essa percepção”.

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Por: G1

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