Esta notícia pode ser comemorada como o fim de um exame médico intrusivo, graças ao avanço da tecnologia. Mas o que é exatamente o exame de toque retal e quais são as consequências da sua substituição?
O exame de toque retal consiste na verificação da parede retal, feita por um médico, que insere um dedo através do ânus do paciente. Isso faz com que o profissional tenha acesso à glândula prostática, ajudando-o a encontrar sinais de câncer.
Este tipo de exame foi o único método disponível para verificar a existência de câncer da próstata até 1986, quando surgiu o exame de antígeno prostático específico (PSA, na sigla em inglês), feito com sangue extraído do paciente.
O exame de toque retal pode também ser utilizado para detectar outros tipos de câncer, como o câncer retal e anal. Ele pode ainda servir para verificar se há fezes retidas em pessoas com prisão de ventre e em outras circunstâncias.
Nas mulheres, o exame de toque retal é usado para verificar a ocorrência de câncer, incluindo a disseminação de câncer do ovário.
Se executado corretamente, o exame não deve ser muito desconfortável. E a privacidade e a boa comunicação podem ajudar muito a superar o eventual constrangimento.
Todos os estudantes de medicina aprendem a fazer o exame. Muitos ouviram por gerações que, ao examinar os pacientes, “se não puser o dedo, pode acabar metendo os pés pelas mãos”.
A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz. Ela fica na pélvis e rodeia a uretra quando ela sai da bexiga. Convenientemente, ela fica ao lado do reto e é facilmente percebida pelo dedo durante o exame.
Se estiver inflamada, como no caso da prostatite, ela ficará sensível. E, quando há crescimento benigno da próstata, o que acontece na meia-idade e causa retração do fluxo urinário, a próstata irá parecer inchada.
No caso de câncer da próstata, a superfície pode ser irregular e a textura firme ao toque. Mas é muito comum que o câncer da próstata não seja detectado nos estágios iniciais da doença.
A próstata fica localizada entre o reto e a base do pênis — Foto: Getty Images
O sistema de faculdades de medicina do Reino Unido, acertadamente, dedica grande ênfase ao aprendizado de bons conhecimentos clínicos.
A dependência excessiva da tecnologia é considerada um possível desperdício dos escassos recursos disponíveis. Além disso, aparentemente, os pacientes gostam de pensar que seus médicos têm experiência em diagnósticos clínicos.
Mas existem momentos em que a tecnologia oferece maior precisão para encontrar doenças, especialmente quando elas estão nos seus estágios iniciais.
A ressonância magnética fornece imagens detalhadas de estruturas corporais. Ao contrário do raio X e da tomografia computadorizada, ela não usa radiação ionizante (relacionada ao aumento do risco de câncer) e é considerada segura. É também eficaz para detectar o câncer da próstata no estágio inicial e para “vigilância” (monitoramento) da doença.
Por outro lado, a ressonância magnética é cara, as máquinas têm grande volume, consomem muita energia e normalmente são restritas aos hospitais. Tudo isso limita o seu uso.
Existe um exame de sangue – o já mencionado exame de PSA – que é utilizado para sinalizar doenças da próstata, mas não é específico de câncer.
Quando usado em combinação com o exame de toque retal, ele ajuda a detectar os casos. Mas os níveis de PSA ficam elevados após o exame de toque retal, o que dificulta o momento do exame. É preciso que o sangue seja retirado em outra consulta.
Qual é, então, a função do exame de toque retal no diagnóstico do câncer da próstata?
Acredito que ele ainda seja necessário. O câncer da próstata espalha-se facilmente para os ossos e não é incomum que a doença não diagnosticada se manifeste na forma de dores nas costas, quando o câncer já se espalhou para as vértebras.
E, se houver a suspeita, eventuais resultados positivos no exame retal podem levar a um diagnóstico mais precoce e menos atrasos para o início do tratamento correto.
Os homens devem começar a cuidar da saúde da próstata a partir dos 40 anos de idade — Foto: Getty Images
O exame de toque retal funciona um pouco melhor para o câncer retal. Se o tumor estiver em local acessível para o dedo do médico examinador, é possível detectá-lo em até 76% dos casos.
Para a prisão de ventre, a descoberta de fezes no reto pode eliminar a despesa e a exposição à radiação das investigações modernas, que substituíram o raio X do abdômen pela tomografia computadorizada, com uso intensivo de radiação.
O exame retal está morto? Acho que não. É um exame barato que fornece informações úteis, quando realizado e interpretado de forma correta.
*Stephen Hughes é professor titular de medicina da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.
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