Os EUA disseram que o Iraque tinha armas de destruição em massa e era uma ameaça à paz internacional. Mas a maioria dos países se recusou a apoiar uma ação militar contra o Iraque.
Por que os EUA queriam invadir o Iraque?
Na Guerra do Golfo de 1990 a 1991, os EUA lideraram uma coalizão multinacional que expulsou do Kuwait as forças do Iraque que haviam invadido o país.
Posteriormente, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a Resolução 687 ordenando ao Iraque que destruísse todas as suas armas de destruição em massa — termo usado para descrever armas nucleares, biológicas e químicas e mísseis balísticos de longo alcance.
Em 1998, o Iraque suspendeu a cooperação com os inspetores de armas da ONU. Os EUA e o Reino Unido responderam com ataques aéreos.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001 da Al-Qaeda ao World Trade Center em Nova York e ao Pentágono em Washington, o governo do presidente George W. Bush começou a fazer planos para invadir o Iraque.
O presidente Bush afirmou que Saddam continuava fabricando e estocando armas de destruição em massa e que o Iraque fazia parte de um “eixo do mal” internacional, junto com o Irã e a Coreia do Norte.
Em outubro de 2002, o Congresso dos Estados Unidos autorizou o uso de força militar contra o Iraque.
“Muitas pessoas em Washington acreditavam que havia evidências significativas de que o Iraque tinha armas de destruição em massa e que isso representava uma ameaça genuína”, diz Leslie Vinjamuri, diretora do Programa sobre EUA e Américas na Chatham House, um think tank de relações exteriores em Londres.
Em fevereiro de 2003, o então secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, pediu ao Conselho de Segurança da ONU que aprovasse uma ação militar contra o Iraque, dizendo que o país estava violando resoluções anteriores com seu suposto programa de armas de destruição em massa.
No entanto, ele não conseguiu convencer o Conselho. A maioria de seus membros queria que os inspetores de armas da ONU e da Autoridade Internacional de Energia — que haviam ido ao Iraque em 2002 — realizassem mais trabalhos para encontrar evidências de armas de destruição em massa.
Os EUA disseram que não esperariam que os inspetores apresentassem relatórios e formaram uma “coalizão dos países dispostos” contra o Iraque.
Dos 30 países da coalizão, o Reino Unido, a Austrália e a Polônia participaram da invasão com soldados.
O Reino Unido enviou 45 mil soldados; a Austrália, 2 mil; e a Polônia, 194. O Kuwait permitiu que a invasão fosse lançada de seu território.
A Espanha e a Itália deram apoio diplomático à coalizão liderada pelos EUA, assim como várias nações do leste europeu do “Grupo de Vilnius”, que disseram acreditar que o Iraque tinha um programa de armas de destruição em massa e estava violando as resoluções da ONU.
De que EUA e Reino Unido acusavam o Iraque?
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse à ONU em 2003 que o Iraque tinha “laboratórios móveis” para a produção de armas biológicas.
No entanto, ele reconheceu em 2004 que a evidência para isso “parece não ser (…) tão sólida”.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse à ONU que o Iraque estava produzindo armas de destruição em massa. — Foto: Getty Images via BBC
O governo do Reino Unido tornou público um dossiê de inteligência afirmando que os mísseis iraquianos poderiam ser preparados em 45 minutos para atingir alvos do Reino Unido no Mediterrâneo oriental.
O então primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, disse que “não havia dúvida” de que Saddam Hussein continuava a produzir armas de destruição em massa.
Os dois países basearam seus relatórios nas alegações de dois desertores iraquianos — um engenheiro químico chamado Rafid Ahmed Alwan al-Janabi e um oficial de inteligência chamado Maj Muhammad Harith — que disseram ter conhecimento em primeira mão do programa de armas de destruição em massa do Iraque.
Ambos disseram anos depois que haviam forjado as provas porque queriam que os aliados invadissem e expulsassem Saddam.
Quem não apoiou a invasão?
Os dois vizinhos dos EUA — Canadá e México — não apoiaram a invasão. A Alemanha e a França — dois importantes aliados dos EUA na Europa — também recusaram seu apoio à guerra.
A Turquia — também integrante da aliança militar Otan e vizinha do Iraque — recusou premissão aos EUA e aliados para que usassem suas bases aéreas.
Os países do Oriente Médio que apoiaram os EUA contra o Iraque na Guerra do Golfo de 1990-91, como a Arábia Saudita, não apoiaram a invasão em 2003.
“Os países do Golfo Pérsico acharam que o plano era maluco”, diz o professor Gilbert Achcar, especialista em política do Oriente Médio da Universidade de Londres SOAS.
O que aconteceu na guerra?
Na madrugada de 20 de março de 2003, a Operação Iraqi Freedom começou com 295 mil soldados americanos e aliados invadindo o Iraque pela fronteira com o Kuwait.
No norte do Iraque, 70 mil membros da milícia curda Peshmerga lutaram contra as forças iraquianas.
Em maio, o exército iraquiano foi derrotado e seu regime derrubado. Saddam Hussein foi posteriormente capturado, julgado e executado.
No entanto, nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada no Iraque.
Em 2004, o país foi dividido por uma insurgência sectária. Anos depois, uma guerra civil eclodiu entre as facções sunitas e xiitas do Iraque.
As tropas americanas se retiraram do Iraque em 2011.
Estima-se que 461 mil pessoas morreram no Iraque por causas relacionadas à guerra entre 2003 e 2011 e que a guerra custou US$ 3 trilhões aos EUA.
“Os EUA perderam muita credibilidade com esta guerra”, diz Karin von Hippel, diretora-geral do centro de estudos do Royal United Services Institute em Londres.
“Você ainda ouve pessoas dizendo, vinte anos depois: por que deveríamos acreditar na inteligência americana?”
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