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A competição disputada na Austrália e na Nova Zelândia com 32 países tem ao menos 95 atletas LGBTQIA+, um recorde, segundo o site Outsports. O levantamento, que analisou 736 competidoras, levou em conta apenas quem falou abertamente sobre a sua orientação sexual em redes sociais ou em entrevistas. Na Copa do Mundo feminina de 2019, quando 24 seleções disputaram o troféu, a pesquisa identificou 40 mulheres gays, lésbicas e bissexuais.
Para Luiza Aguiar dos Anjos, professora de educação física e pesquisadora do esporte com foco nas relações de gêneros e sexualidade, parte da explicação para isso pode estar no fato de o futebol masculino ser, culturalmente, mais vigiado em comparação ao feminino.
“Se dá muita importância ao futebol masculino historicamente e pouco ao feminino — para valorizar, para dar visibilidade, para dar atenção. E por essa cobrança com relação a masculinidade há muito pouco espaço para que os homens possam se assumir gay ou até fugir da heteronormatividade.”
E, também, porque o futebol feminino se consolidou mais acolhedor e receptivo para mulheres lésbicas.
“Então o futebol, como um terreno propriamente masculino, nessa visão equivocada, estereotipada, quando as mulheres ousam ocupar esse espaço, muitas vezes elas são taxadas como lésbicas. Então, de certa medida, é uma transgressão ocupar o futebol, e o futebol acabou servindo como um espaço de acolhimento a mulheres lésbicas.”
De acordo com a Outsports, a Austrália é o país mais LGBTQIA+ desta Copa, com pelo menos 10 atletas, o que representa mais de 40% da equipe. O levantamento da Outsports identificou 9 atletas do Brasil.
Uma das brasileiras é Kathellen Sousa, jogadora do Real Madrid e camisa 3 da seleção, que namora Fernanda Palermo, atleta do São Paulo. Em março deste ano, as duas fizeram uma publicação em conjunto no Instagram celebrando o dia nacional do orgulho gay.
Outra brasileira é Marta, a principal jogadora do Brasil e eleita seis vezes a melhor do mundo. Marta namora a americana Carrie Lawrence, e ambas jogam pelo Orlando Pride.
Além disso, pelo menos duas treinadores falaram publicamente sobre sexualidade LGBTQIA+, segundo o Outsports: Pia Sundhage (Brasil) e Bev Priestman (Canadá).
“Não é a prática do esporte que vai determinar a sua orientação sexual, isso não tem relação. O que a gente vê é que, de fato, é que o futebol feminino é um espaço acolhedor em que mulheres lésbicas que as vezes [viveriam] uma situação em que na família ela não é acolhida, que há uma rejeição, mas que em um determinado clube, numa pelada, num grupo de mulheres, ela poderia se expressar.”
Mesmo que o cenário esportivo tenha melhorado, com mais visibilidade e recepção para falar abertamente sobre sexualidade nos últimos anos, as cobranças comerciais que chegam com o avanço da carreira ainda podem fazer com as atletas se esquivem de falar.
“Se a gente pensar no ‘pink money’, em coisas do tipo, acho que começa haver um mercado que acha também interessante figuras que se posicionem desse modo, mas ainda é arriscado. Não é qualquer mulher ou qualquer homem que pode se posicionar entendendo que isso não vai gerar nenhum risco, nenhum prejuízo da sua carreira. […] Acho que a gente ainda não está numa sociedade totalmente aberta e inclusiva nesse sentido.”
Pink money (dinheiro rosa, em tradução livre) é como é chamado o mercado focado no segmento gay.
Para a pesquisadora, que também é professora no CEFET-MG (Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), um nome que segue se destacando na defesa da defesa da diversidade sexual (e não só neste campo) é o da americana Megan Rapinoe, que, aos 38 anos, está em sua quarta Copa do Mundo.
Em 2019, ela foi o principal destaque e levou o seu país ao seu segundo título. O desempenho também a fez ser eleita a melhor jogadora do Mundo naquele ano – algo que se repetiu em 2020.
Craques do futebol feminino: conheça a trajetória de Megan Rapinoe, estrela norte-americana e ativista
Por: G1
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