Ary havia saído de moto de uma reunião em Cubatão (SP) e se dirigia a um bar, no bairro da Aviação, em Praia Grande. Já na cidade de destino, onde também morava, foi abordado por dois criminosos, que roubaram o celular dele, uma arma e dispararam contra a face do professor. Ele tinha registro de Caçador, Atirador e Colecionador (CAC) .
Após ter sido baleado, os bandidos fugiram a pé e a Polícia Militar foi acionada. Antes de os agentes chegarem à cena do crime, que ocorreu na noite de quarta-feira (1), Ary se deslocou sem ajuda ao Pronto-Socorro, onde foi atendido e ainda prestou depoimento aos PMs. Por não ter convênio médico, ele foi transferido ao Hospital Irmã Dulce, onde morreu no último domingo (5).
A esposa e também professora, Cristiane Camargo, de 50 anos, estava em casa quando foi informada que Ary havia sido baleado. Imediatamente se dirigiu ao complexo hospitalar e soube que o marido estava com a bala alojada perto da garganta, na região do palato – limite que separa a cavidade oral da cavidade nasal. “Ele ainda conseguiu me ver e me pediu perdão”, contou.
De acordo com Cristiane, o marido estava “falando muito mal” e precisou ser entubado, pois o projétil havia se deslocado. A situação repediu na madrugada do último domingo, quando a bala voltou a se movimentar atingindo uma veia importante. “Ele teve uma hemorragia sem fim. Tentaram reanimá-lo, mas não resistiu. Não merecia ter morrido desse jeito”, lamentou.
Professor desde 2016, Ary Osmar Nascimento Filho saiu de uma reunião escolar, em Cubatão (SP), na noite da última quarta-feira (1º). — Foto: Reprodução/ Instagram
Não foi informada da morte
A mulher contou ter ido ao hospital no domingo às 10h e disse não ter sido informada de que a morte havia sido confirmada na madrugada daquele dia, por volta de 1h. Segundo ela, a disseram que ele havia sido transferido para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que deveria retornar só às 16h.
“Quando voltei, antes do horário combinado, o médico me chamou para conversar e disse que ele já tinha vindo a óbito às 1h05 da manhã [de domingo]”.
Como diz ter tomado um choque com a notícia e, depois, ter sido consumida com toda a burocracia para a realização de autópsia, funeral e enterro, Cristiane contou não ter conseguido reagir ao que afirma ter sido uma negligência da unidade de saúde.
“Eu não tinha condição de brigar por isso. Fui lá achando que teria uma boa notícia, de que ele teria melhorado. Eu não gostaria que isso acontecesse com ninguém, porque é horrível”, lembra.
O g1 questionou o Complexo Hospitalar Irmã Dulce sobre a situação, porém, somente foi informado por meio de nota que o paciente deu entrada na unidade no dia 1º de fevereiro, onde recebeu toda a assistência médica necessária.
“Entretanto, infelizmente, o mesmo veio a óbito no dia 5 de fevereiro, sendo encaminhado ao IML. A direção do hospital está à disposição para quaisquer esclarecimentos e acolhimento da família”, finalizou.
Nas redes sociais, ex-alunos, estudantes e colegas de trabalho de Ary Osmar Nascimento Neto lamentaram a morte do professor. — Foto: Reprodução/ Instagram
A Escola Técnica Estadual (Etec) de Cubatão (SP), local onde Ary trabalhava, emitiu uma nota de pesar nas redes sociais. Nos comentários, diversos alunos e ex-estudantes da unidade lamentaram a morte do professor, que lecionava no curso técnico de Logística. “Meu marido era uma pessoa boa e maravilhosa. Era um profissional excelente e se doava muito pelo trabalho”, disse Cristiane.
De acordo com a esposa, antes de ser professor, Ary trabalhava como caminhoneiro. Ele se formou em Logística pela Faculdade de Tecnologia da Baixada Santista Rubens Lara (Fatec) e passou a dar aulas no curso técnico em 2016.
Durante o velório, Cristiane conheceu vários alunos e docentes que tiveram contato com o marido dela ao longo desses anos na área da educação. “Ele tocou em muitas vidas com certeza. Esse é o nosso legado [como professores]”.
VÍDEOS: Mais assistidos do g1 nos últimos 7 dias
Publicar comentários (0)