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Quem é Narges Mohammadi, ganhadora do prêmio Nobel de 2023

today6 de outubro de 2023 10

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Ela iniciou sua militância quando era estudante de física, nos anos 1990. A ativista defendia a igualdade e os direitos humanos das mulheres. Após concluir os estudos, trabalhou como engenheira e também era colunista em vários jornais locais.

Mohammadi nasceu em Zanjan, no noroeste do Irã.

No começo dos anos 2000, envolveu-se com o Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã (capital do Irã), uma organização fundada pela ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Shirin Ebadi, em 2003.



“Narges poderia ter saído do país, mas sempre se negou, tornou-se a voz dos sem voz. Mesmo na prisão, não esquece seu dever e relata a situação dos presos”, afirmou Reza Moini, ativista iraniana que conheceu Mohammadi.

Por sua militância, ela foi presa pelo menos 13 vezes e sentenciada por 31 anos, além de 154 chicotadas.

Ela foi presa a primeira vez em 2011, quando tentou ajudar ativistas que estavam encarcerados. Outra condenação aconteceu, por exemplo, em 2016, por ser porta-voz do grupo de Shirin Ebadi, que foi considerado ilegal pelo governo do país.

Ao regressar uma das vezes da prisão, passou a lutar contra o sistema prisional do país, principalmente em relação a tortura e abuso sexual contra presos políticos, especialmente mulheres.

Nobel da Paz 2023 vai para iraniana Narges Mohammadi

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Em seu livro “White Torture” (“Tortura Branca”, em tradução literal), Mohammadi denuncia as condições de vida dos prisioneiros, especialmente em isolamento, abusos que ela mesma diz ter sofrido.

Hoje, ela cumpre uma pena de 12 anos e sem o direito de receber visitas. A última condenação aconteceu em 2021, após comparecer a um memorial em homenagem a uma pessoa morta em protestos nacionais de 2019, contra o aumento nos preços de combustíveis.

Ela está na prisão de Evin, no Teerã, cujos presos incluem pessoas ligadas ao ocidente e presos políticos. E, mesmo atrás das grades, ela segue como vice-diretora do Centro de Defensores dos Direitos Humanos do Irã.

Enquanto está encarcerada, ela também conseguiu publicar um artigo recentemente no jornal “The New York Times” no qual diz que “quando mais nos prendermos, mais forte estaremos”.

À agência de notícias francesa AFP, Mohammadi admitiu não ter “praticamente nenhuma perspectiva de liberdade”. Ainda assim, “o pavilhão de mulheres de Evin é um dos pavilhões de presas políticas mais ativos, resistentes e alegres do Irã”, acrescentou.

“A prisão sempre foi o coração da oposição e da resistência no Irã e, para mim, também encarna a essência da vida em toda sua beleza”, afirmou também.

Narges Mohammadi em imagem de junho de 2007 — Foto: Behrouz Mehri / AFP

Toda a luta de Mohammadi levou-a se tornar um dos principais nomes da revolução que começou com a morte da Mahsa Amini, no ano passado.

Ela foi presa por “uso incorreto” do véu, segundo a polícia iraniana. Dois dias depois, sob custódia policial, foi internada em estado grave, com lesões na cabeça, e morreu no hospital.

A morte desencadeou um dos maiores movimentos contra o regime do Irã, acusado de oprimir mulheres. Essas foram as manifestações desde a Revolução Islâmica de 1979. Ao todo, mais de 500 pessoas foram mortas e 20 mil foram presas.

Segundo o Comitê do prêmio, o lema adotado pelos manifestantes – “Mulher – Vida – Liberdade” – expressa totalmente o trabalho de Narges Mohammadi:

  • Mulher — “ela luta pelas mulheres contra a discriminação e a opressão sistemáticas”;
  • Vida — “ela apoia a luta das mulheres pelo direito de viver uma vida plena e digna. Esta luta em todo o Irã tem sido alvo de perseguição, prisão, tortura e até morte”;
  • Liberdade — “ela luta pela liberdade de expressão e pelo direito à independência, e contra as regras que exigem que as mulheres permaneçam fora da vista e cubram os seus corpos. As exigências de liberdade expressas pelos manifestantes aplicam-se não apenas às mulheres, mas a toda a população”.

À época, ela escreveu da prisão para dar à BBC detalhes angustiantes de como as mulheres detidas em manifestações foram abusadas sexualmente e fisicamente. Mohammadi disse que tais agressões se tornaram mais comuns durante protestos.

Narges Mohammadi — Foto: Reuters

Vale destacar que em 16 de setembro, ela e três outras prisioneiras queimaram seus véus no pátio da prisão, em memória do aniversário da morte de Amini, segundo sua conta no Instagram, administrada por sua família.

Dois meses antes, Mohammadi publicou um texto no Instagram contra o véu obrigatório: “Neste regime autoritário, a voz das mulheres é proibida, o cabelo das mulheres é proibido (…) Não aceitarei o hijab obrigatório”.

O Comitê responsável pelo prêmio, em nota, também disse que premiá-la é homenagear a sua corajosa luta pelos direitos humanos, pela liberdade e pela democracia no Irã.

“”O Comitê Norueguês do Nobel decidiu atribuir o Prêmio Nobel da Paz de 2023 a Narges Mohammadi pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e pela sua luta para promover os direitos humanos e a liberdade para todos.”, informou o comitê em nota.

Mohammadi é a 19ª mulher a ganhar o prêmio de 122 anos e a primeira desde que Maria Ressa, das Filipinas, ganhou o prémio em 2021, juntamente com o russo Dmitry Muratov.

O Prêmio Nobel da Paz, no valor de 11 milhões de coroas suecas, ou cerca de 1 milhão de dólares, será entregue em Oslo no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do industrial sueco Alfred Nobel, que fundou os prêmios no seu testamento de 1895.

Após a premiação, o marido de Mohammadi, Taghi Rahmani, disse que “este prêmio vai encorajar a luta dela pelos direitos humanos”. “Este é um prêmio para o movimento pelas mulheres, pela vida e pela liberdade”. Ela tem dois filhos gêmeos, de 17 anos, Kiana e Ali, que vivem com o pai, em Paris.

No ano passado, ela foi incluída na lista 100 Women da BBC – uma lista de 100 mulheres inspiradoras e influentes de todo o mundo.

Ganhadora do prêmio Nobel — Foto: Reprodução/Twitter




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Por: G1

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