Wesley Amaral dos Santos, conhecido como Wescritor, contou que seu interesse pela música nasceu em um momento de conexão com suas origens. O avô, Ancião Amaral, é da Aldeia Itapoã do povo tupinambá de Olivença, na Bahia.
“Foi a salvação de uma depressão que eu tive. Larguei tudo e fui ficar com meu avô na Bahia. Lá, aconteceu esse resgate e eu pude sentir tudo. Já fazia música, mas não escrevia sobre minha ancestralidade. Eu não imaginava que isso alcançaria o próximo”, lembra.
Hoje, o artista trabalha para manter o legado de seus ancestrais nesta geração. “Estou fazendo o que os meus antigos fizeram. Passando a oralidade e a história. Só que hoje, através de um rap e uma batida. Na realidade, o que meu povo sempre fez”, cita.
Wescritor contou precisar de uma fonte extra, como motorista de aplicativo na Baixada Santista, para financiar a própria arte. “Tudo que eu ganho invisto”.
“2023 foi o ano que mais consegui movimentar a parte artística entre shows, palestras, desfiles e fotografias. Mas, sigo trabalhando como motorista na Baixada Santista. É assim que eu ainda movimento e fortaleço o meu lado artístico.”, afirma.
Inclusão dos povos originários na música
O rapper destaca que a indústria musical tem dado mais espaço para artistas indígenas. “A visibilidade tem acontecido depois de muita luta. Eu percebo muita diferença nesse cenário” Ele ressaltou, porém, que ainda há muito o que ser conquistado.
O artista mantém o legado de seus ancestrais por meio da música. — Foto: Yago Pontoni/Divulgação
“A arte no geral não é valorizada. Principalmente a realizada pelo povo periférico, preto e indígena que têm menos espaço ainda quando se trata de arte. É preciso acordar e mudar essa ‘engrenagem’. Ideias não faltam, mas faltam espaços.”, afirma, Wescritor.
O rapper define que a divulgação de artistas indígenas ainda possui um forte teor comercial por parte da indústria fonográfica. “Falta parar de hipocrisia. Há muitas ‘vitrines’ em que somos colocados. Falta parar com isso e, realmente, dar espaços maiores.”
Entre os artistas que mais admira no cenário musical indígena estão Gean Ramos Pankararu, Jason Tupã, Edivan Fulni-ô, Brisa Flow, Katú Mirim e Amarú Pataxó.
‘LADO 13’ e ‘Original Kaysara’
Em 22 de janeiro, Wescritor lançou o single ‘Exu Cigano Tupi’. Segundo o artista, a nova música representa sua espiritualidade.
“Representa as minhas forças. Que me acompanham e que, principalmente, fizeram parte desse trabalho. É um som onde eu falo sobre energia espiritual, encantamento das matas e situações que passei dentro da aldeia.”
Seu único álbum, ‘LADO 13’, foi lançado em agosto de 2022. Conta com 13 faixas – o número que coincide com o DDD da Baixada Santista.
Capa do álbum LADO 13. — Foto: Divulgação
Atualmente, o músico trabalha em seu novo projeto, ‘Original Kaysara’, que será lançado este ano.
“O ‘Original Kaysara’ falará da vivência e da arte independente da Baixada Santista.”
A palavra ‘caa-içara’ é de origem tupi-guarani. É usada como uma forma de se referir às populações dos litorais de São Paulo e Paraná, e de Paraty e Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
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