Desde a invasão russa na Ucrânia, há um ano e quatro meses, a imagem que Vladimir Putin procura transmitir é a de homem forte e senhor da guerra.
Em rede nacional o presidente russo prometeu liquidar a rebelião mas acusou o golpe, a punhalada amiga que levou nas costas.
Segundo Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, essa é a mais grave afronta sofrida desde que Putin assumiu o poder em 1999.
“A Rússia é um país muito centralizado, o presidente decide tudo. Em função disso, é um desafio inédito ao presidente Putin, que precisa agora também lidar com dezenas de homens armados que chegaram a invadir a própria Rússia e iniciaram uma marcha contra Moscou. Ele está sendo desafiado, a sua autoridade está sendo desafiada; e ele, independentemente do que vai acontecer nos próximos dias, está muito mais fragilizado do que era até os eventos mais recentes”, afirma o professor.
Analistas apontam que a saída de mercenários da região do Donbass em direção a Moscou pode ter deixado o território ocupado pelos russos mais vulnerável, facilitando uma retomada pelas forças ucranianas, mas isso não significa necessariamente um fim mais rápido para a guerra.
Tropas do grupo de mercenários Wagner voltam para suas bases no sul da Rússia após acordo que encerrou motim — Foto: Stringer/Reuters
“Não se sabe ainda se o grupo mercenário voltará a atuar na guerra na Ucrânia. Se não houver uma presença contínua dos mercenários do grupo Wagner na Ucrânia, claramente é como se você tira uma das unidades, as melhores unidades do exército russo, e, ao mesmo tempo, a Ucrânia vem recebendo armamentos mais modernos por parte do Ocidente”, diz Oliver.
Para Daniela Vieira Secches, professora de direito interacional da PUC de Minas Gerais, que há 15 anos estuda a Rússia, mesmo antes do acordo que pôs fim à rebelião, o cenário de um golpe contra Putin parecia pouco provável.
“Da parte de Putin, muitos analistas especulam que a iniciativa dele de incentivar esse grupo paramilitar é uma manobra para tentar demandar mais efetividade das forças oficiais do Ministério da Defesa, no sentido de criar ali uma contraparte que, sendo bem-sucedida, poderia pressionar por mais êxitos as forças oficiais, as forças militares”, afirma a professora.
Vladimir Putin falou em punhalada nas costas, mas o conflito com o grupo Wagner mostra mais uma vez ao mundo que o uso de mercenários em guerras e conflitos pode ser um tiro no pé. A falta de registros e contratos oficiais e de controle por parte do governo revelou o perigo do grupo paramilitar. O momento é ruim para Putin e preocupante para líderes mundiais que acompanham a crise.
“É uma ameaça, pelo menos dentro da ordem internacional como está posta, né? Se ela não se modificar e criar mecanismos para lidar com esse tipo de instituição, sem dúvidas nós teremos um ambiente internacional mais inseguro”, diz Daniela.
Oliver Stunkel também lembrou que, apesar de ter liderado a invasão à Ucrânia, as potências internacionais ainda preferem lidar com Putin a lidar com um mercenário:
“Uma pessoa que teve envolvimento em crimes de guerra em vários países diferentes e que pode ser alguém ainda mais perigoso, ou menos previsível que o atual presidente. A Rússia é um estado com armas nucleares, com a maior quantidade de bombas atômicas do mundo, então me parece que vários países de repente comparando Vladimir Putin com Prigozhin, vão preferir o status quo, que representa algum perigo – sobretudo para a Ucrânia – mas que pelo menos é um ator um pouco mais conhecido do que o lider do grupo mercenário Wagner”.
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Por: G1
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