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Vídeos e áudios revelam ex-presidente do Santos negociando devolução de cocaína que iria para o RJ a traficantes

today21 de dezembro de 2022 63

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Imagens e áudios obtidos pela reportagem mostram Orlando Rollo em ação. Segundo os promotores do Gaeco, um dos vídeos obtidos durante a investigação mostra o exato momento em que Rollo negociava com João Armôa Neto, advogado de Vinycius Soares da Costa, apontado como o braço direito de André Oliveira Macedo, o André do Rap, um dos maiores traficantes internacionais de droga (veja abaixo).

O vídeo registra Rollo enviando um áudio que seria para o advogado por meio de um aplicativo de mensagens. “Eu tenho interesse total, entendeu? Em ir contigo o quanto antes até porque eu preciso agilizar o meu trabalho. O problema é que a Receita Federal foi acionada por causa do contêiner e só tem nós para fazer esse trabalho de apoio, entendeu?”.



Vídeos e áudios revelam ex-presidente do Santos negociando devolução de cocaína

Vídeos e áudios revelam ex-presidente do Santos negociando devolução de cocaína

Segundo o Ministério Público, a troca de mensagens envolvendo Rollo e Armôa revela um esquema de pagamento de propina para investigadores da Polícia Civil. Tudo começou em 6 de agosto, de acordo com a denúncia do Gaeco.

Rollo e outros três policiais da equipe dele recebem uma denúncia de que uma grande quantidade de cocaína seria repassada de um caminhão para outro na Rodovia Cônego Domenico Rangoni. A droga teria como destino o Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ).

Na denúncia, o Gaeco apontou que foi nesse momento que os policiais decidiram desviar a maior parte da cocaína encontrada dentro do caminhão, 790 dos 958 kg de drogas apreendidas. Fotos obtidas pela perícia mostram que 160 tabletes, que estavam no mesmo caminhão, foram apresentados pelos policiais.

No mesmo dia, Armôa e o Vinycius teriam conversado sobre o início da negociação e a devolução da droga. A investigação do Ministério Público mostra que o advogado e Rollo começaram a trocar mensagens no mesmo dia para negociar a devolução das drogas e que o advogado perguntou se o encontro poderia ser no 3° DP. O investigador confirma que seria melhor lá.

Em seguida, o advogado manda um áudio para Vinycius para falar o que havia sido combinado com Rollo, mas o encontro foi adiado porque a Receita Federal estava acompanhando a apreensão da droga. No entanto, Armôa e o ex-presidente do Santos voltaram a trocar mensagens.

Orlando Rollo, ex-presidente do Santos e investigador da Polícia Civil, foi preso em operação do GAECO — Foto: Reprodução/TV Tribuna

De acordo com promotores do Gaeco, a reunião aconteceu, mas não teve acordo porque Vinycius aceitou pagar apenas R$ 3 milhões pela droga, enquanto o grupo de policiais denunciados exigia, no mínimo, R$ 4 milhões. Como não houve acordo, Armôa retomou as conversas com outro suposto integrante, identificado como Peligro, que aceita devolver os 790 kg de cocaína pelo valor solicitado.

Segundo o Ministério Público, Vinycius e Armôa aceitaram o pagamento de R$ 4 milhões. Em um áudio para o traficante, o advogado demonstrou certa preocupação com a logística para devolução da droga, mas a operação não deu certo porque o traficante foi preso em 8 de agosto e um mês depois o advogado também foi preso. Já Rollo e outros três policiais civis foram presos durante uma operação em 18 de novembro.

O promotor de Justiça Renato dos Santos Gama afirmou que a denúncia foi contra sete agentes, sendo quatro policiais civis, um advogado, o traficante da droga e o motorista que levava a cocaína até a apreensão pela Polícia Civil. “Há um agente ainda foragido desde a época da prisão temporária, [que é] o motorista do caminhão”.

“Necessário pontuar que há outros indivíduos ainda não identificados, e além disso a droga em tese ainda está armazenada, não foi vendida totalmente, segundo informações. O objetivo segundo seria a localização dessas drogas”, disse Gama.

Após a apresentação da denúncia, os promotores pediram à Justiça a conversão da prisão temporária em preventiva, que foi aceita pelo juiz responsável pelo caso. Para o Gaeco, não resta nenhuma dúvida que os policiais pediram propina aos traficantes para liberar o restante da droga apreendida. Os promotores agora querem saber onde foi parar os 790 kg de cocaína desviados.

Para o também promotor de Justiça Silvio Loubeh, a sociedade fica completamente desamparada. “Justamente os policiais que tinham obrigação, tinham o dever de tomar as providências estão negociando, revendendo, na verdade, estão traficando né?”.

O advogado de defesa de Orlando Rollo, Armando de Mattos, disse que não concorda com a decretação da prisão preventiva e vai entrar com um recurso para revogar a prisão. Já a defesa do advogado João Armôa Junior disse que analisará a denúncia do Ministério Público e que irá recorrer da prisão preventiva.

O Juiz da 5ª Vara Criminal da Comarca de Santos, no litoral de São Paulo, Walter Luiz Esteves de Azevedo, também decretou a prisão preventiva de outros agentes da polícia civil suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas e crimes contra administração pública: Joaquim Carlos de Freitas Bonorino Filho, Marcelo Silva Paulo e Ricardo de Almeida Razões.

Também foi decretada a prisão preventiva de João Manoel Armôa Junior, advogado criminalista que está preso provisoriamente, desde setembro, e é tido como a ponte entre os traficantes e os policiais para o pagamento de propina pela liberação da droga apreendida.

João Manoel Armôa (à esq), que está preso desde setembro, é tido como a ponte entre os traficantes e Rollo (à dir) e demais policiais para o pagamento de propina pela liberação da droga apreendida — Foto: Acervo A Tribuna Jornal

Vinicyus Soares da Costa, mais conhecido como Evoc, e que seria o principal cliente de Armôa é apontado como líder da facção criminosa na região, e também entrou na lista para ser preso preventivamente. O último nome é o de Tiago Lima Gregório, apontado pela polícia como o proprietário do caminhão que transportava as drogas.

No documento despachado e assinado por Azevedo, o magistrado afirma que os crimes são de ‘imensa gravidade’ e que a quantidade de drogas é ‘impressionante’. “Um lote de 790 quilos de cocaína é capaz de infelicitar um número gigantesco de pessoas e famílias”.

O juiz destacou também que que há indícios de que os agentes do Estado, pagos com o dinheiro público, se voltaram contra a sociedade e usavam os recursos públicos, inclusiva uma sala do 3º Distrito Policial (DP) para praticar os crimes.

Orlando Rollo, ex-presidente do Santos e policial civil, teve prisão preventiva decretada — Foto: Arquivo pessoal

“A prisão também é necessária para que se assegure a instrução criminal. Quatro dos representados são investigadores de polícia. Eles têm à disposição os recursos do Estado […] e podem andar armados. Eles têm acesso a informes mesmo sigilosos no âmbito da Polícia Civil. O mero afastamento deles das funções policiais seria insuficiente para assegurar o andamento das investigações”, ressaltou na decisão.

Ainda de acordo com a apuração, as eventuais ações criminosas começaram a ser investigadas em agosto deste ano, quando os citados policiais oficializaram a apreensão de 168 quilos da droga, que pertencia à própria facção, e estaria escondida em um caminhão, na Ilha Barnabé, na margem direita do porto organizado de Santos.

Cocaína apreendida por equipe de Rollo e demais investigadores seria apenas uma fração da carga interceptada e liberada à facção — Foto: Reprodução/TV Tribuna

O volume de droga, porém, seria superior ao apresentado na delegacia – a reportagem não teve acesso à quantidade desviada, se foi negociada em troca de propina e os valores obtidos de forma ilícita. Sabe-se, no entanto, que a cocaína abasteceria os pontos de tráfico no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ).

O advogado de Rollo e dos outros três agentes, Armando de Mattos Júnior, alegou à época que os clientes são inocentes. “São policiais antigos, de boa conduta, conhecidos na comarca e são policiais trabalhadores”, disse após as prisões.

Orlando Rollo nasceu em Santos, se formou em Direito, tem tecnólogo em Segurança Pública e atua como investigador da Polícia Civil de São Paulo desde 2002.

Sócio do Santos desde 1993, ele foi conselheiro do clube por sete mandatos, entre 1999 e 2014 e de 2017 e 2020. Na eleição para a presidência do Peixe de 2014, ele foi o quarto colocado. Em 2017, ele foi eleito como vice na chapa encabeçada por José Carlos Peres. Substituto de José Carlos Peres, que sofreu impeachment, ele esteve no cargo por três meses. Em janeiro, o eleito Andres Rueda assumiu.

Na área do futebol, ele faz um MBA em Marketing Esportivo e Psicologia do Esporte, tem curso de Gestão Estratégica de Esportes pela FGV e faz o curso oficial de Gestão de Futebol da CBF Academy. Ele também tem três especializações na área de administração esportiva pela UniBF (PR).

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Por: G1

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