G1 Mundo

Violência na França: onda de protestos por jovem morto pela polícia adiciona nova crise à longa lista de Macron

today30 de junho de 2023 11

Fundo
share close

À lista de outras crises da ordem civil que Macron teve de superar — terrorismo, coletes amarelos e protestos da esquerda sobre pensões e aposentadorias — agora pode ser adicionada a persistente, e cada vez mais premente, crise que se desenvolve no ‘banlieue’ — a periferia francesa.

Esporadicamente, nos últimos 18 anos, tem havido registros de tumultos nas periferias, regiões com grande concentração de franceses descendentes de imigrantes.

Normalmente, essas manifestações eram desencadeados pela morte ou ferimento de um jovem residente do sexo masculino — em consequência de ação policial — e elas tendiam a não durar mais do que uma ou duas noites.



Desde 2005, não houve um trauma prolongado como o que agora ameaça se desenrolar.

Naquela época, como agora, por todo o país as áreas mais problemáticas eclodiram em violência uma a uma, à medida que um subúrbio ia copiando o que havia acontecido em outra área vizinha.

E, tanto naquela época como agora, os alvos principais (além dos carros estacionados) eram prefeituras, delegacias de polícia e escolas — qualquer edifício que ostentasse uma bandeira francesa.

A prefeitura de Gonesse, perto de Paris, foi um dos alvos dos manifestantes na noite de quarta-feira — Foto: STEFANO RELLANDINI/AFP

Os gritos de guerra dos manifestantes eram sobre negligência social, discriminação racial e brutalidade policial. Slogans que pouco mudaram até hoje.

No entanto, em muitos aspectos, houve mudança.

Por exemplo, bilhões de euros foram gastos no projeto Grand Paris Express, que vem inaugurando novas conexões de metrô e bonde nos subúrbios e combatendo o isolamento social que foi considerado uma das principais queixas das periferias.

Se olharmos também para os novos edifícios públicos que vem sendo construídos nos subúrbios de Paris, como Nanterre ou Massy, negligência não é uma palavra que vem à mente.

Veja o número crescente de novos policiais de origem africana ou magrebina — muito mais do que se via em 2005. Ou os esforços para garantir maior acesso de estudantes das comunidades pobres a escolas e universidades de elite.

Outro sinal evidente de mudança pode ser percebido na linguagem pública. Manifestações preconceituosas em referência às minorias eram comuns, e de certa forma aceitáveis, no passado, mas atualmente são condenadas e podem inclusive levar à prisão.

A questão é que a França está mudando, como estão mudando vários outros países.

Mas, apesar disso, todos na França também sabem que ainda continua presente — negligenciada porém apodrecendo — essa cicatriz antiga que é o problema da população periférica.

A segurança nos subúrbios da França foi reforçada enquanto o governo francês tenta acalmar a fúria dos manifestantes — Foto: Reuters

É uma cicatriz nascida do colonialismo, da arrogância, de guerras antigas e ódios alimentados — aos quais se podem acrescentar drogas, crime e religião. E que não está prestes a desaparecer.

O presidente Emmanuel Macron rezava fervorosamente para que o fenômeno das periferias não fosse adicionado à sua lista de fardos, mas seu desejo não foi atendido.

Esta noite, os subúrbios serão inundados por policiais, na esperança de que a mobilização em massa provoque o choque que pode pôr um fim aos tumultos.

Mas o presidente Macron bem conhece a história recente.

Ele sabe que os motins de 2005 duraram três semanas e só terminaram após a declaração de um estado de emergência, que impôs toque de recolher e prisão domiciliar.

Ainda não chegamos lá, mas é possível que volte a ocorrer.




Todos os créditos desta notícia pertecem a G1 Mundo.

Por: G1

Esta notícia é de propriedade do autor (citado na fonte), publicada em caráter informativo. O artigo 46, inciso I, visando a propagação da informação, faculta a reprodução na imprensa diária ou periódica, de notícia ou de artigo informativo, publicado em diários ou periódicos, com a menção do nome do autor, se assinados, e da publicação de onde foram transcritos.

Avalie

Post anterior

tecnico-do-psg-e-seu-filho-sao-detidos-por-suspeitas-de-discriminacao-na-franca

G1 Mundo

Técnico do PSG e seu filho são detidos por suspeitas de discriminação na França

O ainda técnico do Paris Saint-Germain (PSG), Christophe Galtier, e seu filho John Valovic-Galtier foram detidos nesta sexta-feira (30) no âmbito de uma investigação por suspeitas de discriminação após acusações de racismo, informou o Ministério Público à AFP. Os dois estão sob custódia policial em Nice (sudeste da França), anunciou o promotor Xavier Bonhomme. Em meados de abril, a justiça abriu uma investigação por suspeitas de discriminação racial ou religiosa […]

today30 de junho de 2023 15

Publicar comentários (0)

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.


0%