Após este erro atroz do Exército israelense, familiares de reféns pressionam o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu a negociar imediatamente um novo acordo com o Hamas, visando a libertação de 129 reféns, vivos ou mortos, ainda em poder do grupo terrorista no enclave palestino.
As vítimas do erro militar israelense foram identificadas como “uma ameaça” por soldados que faziam uma patrulha terrestre e abriram fogo contra eles.
Inconformados com o impasse em torno dos sequestrados, familiares de reféns e simpatizantes fizeram um protesto na noite de sexta-feira (15) em frente à sede do Ministério da Defesa, em Tel Aviv, para exigir um novo acordo com o grupo armado palestino, visando a libertação do restante dos reféns. Mas quem são eles?
110 reféns e 19 corpos ainda estão em Gaza
No final de novembro, um acordo de trégua intermediado pelo Catar levou a uma pausa de uma semana nos combates, à libertação de cerca de 100 reféns mantidos pelo Hamas e de 240 prisioneiros palestinos detidos em Israel, bem como à entrega de ajuda humanitária de emergência à população palestina.
Segundo levantamento da agência AFP, 110 reféns supostamente vivos, oito corpos de reféns que morreram em Gaza e 11 corpos de pessoas mortas no ataque de 7 de outubro e levadas para o enclave ainda estariam na Faixa de Gaza.
Dos 110 reféns supostamente vivos, 100 são israelenses ou pessoas com dupla nacionalidade israelense, e 10 são reféns estrangeiros (oito tailandeses, um nepalês e o franco-mexicano Orion Hernandez Radoux).
No entanto, não há certeza de que todos eles ainda estejam vivos. O Hamas anunciou a morte do refém mais jovem, o bebê Kfir, que completaria 11 meses neste sábado, de seu irmão Ariel, 4 anos, e da mãe das crianças, Shiri Bibas, de 32 anos. Mas Israel não confirmou essas mortes.
Além de Kfir e Ariel, não há mais reféns menores na Faixa de Gaza. O último deles, a beduína Aisha al-Zayadna, de 17 anos, foi libertada em 30 de novembro, no último dia da trégua. O acordo entre Israel e Hamas previa sua libertação como uma prioridade.
14 soldados, incluindo cinco mulheres
Por outro lado, nem todas as mulheres, a segunda população prioritária no acordo negociado com mediação do Catar, Estados Unidos e Egito, foram libertadas.
Incluindo Shiri Bibas, cujo destino permanece incerto, 16 mulheres supostamente vivas ainda estão sequestradas em Gaza. Judith Weinstein Haggai, de 70 anos, é a mais velha.
Cinco mulheres, com 18 ou 19 anos, são soldados. Por isso, elas não estavam cobertas pelo acordo de libertação de reféns. Havia também nove soldados do sexo masculino com idades entre 18 e 22 anos. A maioria estava prestando serviço militar e não era soldado de carreira. O Hamas e seus aliados também estão mantendo os corpos de quatro soldados que morreram em 7 de outubro e cujos restos mortais foram levados para Gaza.
Incluindo os soldados, 92 homens adultos supostamente vivos ainda são reféns. Entre eles estão muitos pais cujos filhos e esposas foram libertados durante a trégua, como David Cunio, Dror Or, Tal Shoham, Ilan Weiss, Yair Yaakov, Youssef al-Zayadna e Ohad Yahalomi e Ofer Kalderon, os pais dos adolescentes franco-israelenses Eitan, Erez e Sahar.
Reféns do festival Supernova
Sete idosos com mais de 70 anos ainda estão sequestrados, incluindo maridos de mulheres libertadas. São eles Abraham (78 anos), esposo de Ruth Munder, Yoram (80 anos), marido de Tamar Metzger, assim como Oded (83 anos) e Amiram (85 anos), maridos de Yocheved Lifshitz e Nurit Kuper, que foram libertadas em outubro.
Entre os reféns ainda detidos, pelo menos 32 foram sequestrados no festival Supernova, que contou com a presença de mais de 3.000 pessoas. Há também três corpos. Apenas cinco espectadores do evento foram libertados durante a trégua, incluindo a franco-israelense Mia Shem.
Cerca de dez colônias agrícolas israelenses, chamadas de kibutz, ainda desconhecem o paradeiro de moradores. O principal deles é Nir Oz, que tem pelo menos 30 reféns (38 foram libertados) e seis corpos em Gaza. Beeri ainda tem pelo menos oito reféns (e dois corpos), Kfar Aza cinco (e dois corpos) e Nir Yitzhak três reféns (e dois corpos).
Além dos reféns, quatro israelenses e um eritreu ainda são considerados desaparecidos pelas autoridades. Essas cinco pessoas são reféns dos grupos armados palestinos ou mortos, cujos corpos não foram identificados.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu lamentou uma “tragédia insuportável”, após o anúncio do Exército de Israel da morte por engano de três reféns.
As vítimas são Yotam Haim, de 28 anos, baterista de uma banda de heavy metal; Alon Shamriz, de 26, um estudante de engenharia da computação; e Samar Talalka, de 22 anos, um jovem de família árabe que trabalhava no manejo de galinhas em um kibutz próximo da fronteira de Gaza. Todos tinham sido sequestrados em 7 de outubro.
No protesto de familiares ontem à noite em Tel Aviv, um cartaz dizia “todo dia morre um refém”, enquanto uma bandeira israelense estendida na rua foi alvejada com tinta vermelha para representar o sangue derramado na guerra contra o Hamas.
“A única maneira de libertar os reféns com vida é por meio de negociações”, disse Motti Direktor, um manifestante de 66 anos ouvido pela agência AFP. “Estamos aqui depois de uma noite chocante, e estou morrendo de medo. Exigimos um acordo agora”, disse Merav Svirsky, cujo irmão Itay é refém em Gaza.
“Lições imediatas foram aprendidas com esse evento, que foram transmitidas a todas as tropas no terreno”, disse o Exército israelense em um comunicado divulgado na noite de sexta-feira.
Após o anúncio da morte dos três reféns, o site Axios informou que David Barnea, chefe do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, deve se encontrar com o primeiro-ministro do Catar, Mohammed ben Abdelrahmane Al-Thani, no fim de semana.
A reunião está programada para ocorrer na Europa e deve se concentrar em uma segunda fase da trégua, para permitir que os reféns sejam libertados, continuou o Axios, sem especificar o local da reunião ou o número de reféns que poderiam ser libertados.
Especialistas no Oriente Médio entrevistados pela imprensa francesa destacam que essas mortes poderiam ter sido evitadas. Segundo a maior parte dos observadores do conflito, o governo israelense foi alertado diversas vezes que a estratégia de bombardeios indiscriminados na Faixa de Gaza e operações terrestres em busca de combatentes do Hamas poderiam causar a morte de reféns.
A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, fará no domingo sua quarta visita a Israel. Hoje, a chefe da diplomacia francesa está no Líbano, onde busca evitar que o conflito se agrave na região, com as trocas de tiros diárias entre soldados israelenses e membros do movimento xiita Hezbollah, próximo do Hamas.
Apesar da recomendação expressa do presidente americano, Joe Biden, que pediu a Israel para reduzir a intensidade dos bombardeios na Faixa de Gaza, ao menos 14 pessoas morreram neste sábado em ataques aéreos que atingiram duas casas em Jabalia. Um número ainda desconhecido de vítimas se encontra sob os escombros de outra casa atingida na mesma localidade, segundo a agência de notícias palestina Wafa.
Israel também declarou que suas forças haviam matado militantes escondidos em duas escolas na Cidade de Gaza e feito buscas em apartamentos de Khan Younis, onde armas foram encontradas. O Exército anunciou ainda a descoberta do que descreveu como uma infraestrutura subterrânea utilizada pelo Hamas.
O governo de Israel prometeu “destruir o Hamas” após o ataque terrorista do início de outubro, que matou 1.200 pessoas no sul do país. Desde então, a represália israelense já matou 18.800 palestinos na Faixa de Gaza. A maioria das vítimas (70%) são mulheres, adolescentes e crianças.
Publicar comentários (0)