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Podcast Tenho Fé No Amanhã Ministro Fábio Paschoal
Será que pode terminar no ano que se inicia? E como se daria isso — no campo de batalha ou na mesa de negociações? Ou será que pode continuar até 2024?
Michael Clarke, diretor adjunto do Strategic Studies Institute, em Exeter, Reino Unido
Aqueles que buscam invadir outro país em qualquer lugar atravessando as grandes estepes da Eurásia são condenados a acabar passando o inverno lá.
Napoleão, Hitler e Stalin tiveram que manter seus exércitos em movimento diante de um inverno nas estepes, e agora — com sua invasão retrocedendo no solo — o presidente russo, Vladimir Putin, está concentrando suas forças no inverno se´preparando para uma nova ofensiva na primavera.
Ambos os lados precisam de uma pausa, mas os ucranianos estão mais bem equipados e motivados para seguir em frente, e podemos esperar que eles mantenham a pressão, pelo menos em Donbas.
Ao redor de Kreminna e Svatove, eles estão muito perto de uma grande conquista que levaria as forças russas a retroceder 40 milhas (64 quilômetros) até a linha defensiva natural seguinte, perto de onde a invasão efetivamente começou em fevereiro.
Kiev vai relutar em parar enquanto a recompensa imediata for tão grande. As ofensivas ucranianas podem, no entanto, fazer uma pausa no sudoeste, após a retomada de Kherson.
Atravessar para o lado leste do Rio Dnipro para pressionar as vulneráveis ligações rodoviárias e ferroviárias da Rússia para a Crimeia pode ser muito difícil. Mas a possibilidade de Kiev lançar uma nova ofensiva surpresa nunca pode ser descartada.
Para 2023, o fator determinante será o destino da ofensiva de primavera da Rússia. Putin admitiu que cerca de 50 mil reservistas recém-recrutados já estão no front; os outros 250 mil recém-mobilizados estão treinando para o próximo ano.
Não há espaço para nada além de mais guerra até que o destino dessas novas forças russas seja definido no campo de batalha.
Um cessar-fogo breve e instável é a outra única perspectiva. Putin deixou claro que não vai parar. E a Ucrânia deixou claro que ainda está lutando por sua existência.
Andrei Piontkovsky, cientista e analista baseado em Washington DC, EUA
A Ucrânia vai vencer ao recuperar completamente sua integridade territorial até a primavera de 2023, o mais tardar. Dois fatores levam a essa conclusão.
Um deles é a motivação, determinação e coragem dos militares ucranianos e da nação ucraniana como um todo, o que não tem precedentes na história da guerra moderna.
O outro é o fato de que, após anos de apaziguamento de um ditador russo, o Ocidente finalmente percebeu a magnitude do desafio histórico que enfrenta. Isso é melhor ilustrado por uma declaração recente do secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.
“O preço que pagamos é em dinheiro. Enquanto o preço que os ucranianos pagam é em sangue. Se os regimes autoritários virem que a força é recompensada, todos nós vamos pagar um preço muito mais alto. E o mundo vai se tornar um mundo mais perigoso para todos nós.”
O momento exato da inevitável vitória ucraniana será determinado pela velocidade com que a Otan pode entregar um novo pacote de armas de assalto militar (tanques, aviões, mísseis de longo alcance) capaz de virar o jogo.
Minha expectativa é de que Melitopol se torne o principal ponto de batalha nos próximos meses (talvez semanas). Tendo conquistado Melitopol, os ucranianos vão se deslocar facilmente para o Mar de Azov, cortando efetivamente o abastecimento e as linhas de comunicação com a Crimeia.
A rendição russa será formalmente acordada em negociações técnicas após os devastadores avanços ucranianos no campo de batalha.
As potências vitoriosas — Ucrânia, Reino Unido, EUA — vão definir uma nova arquitetura de segurança internacional.
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Barbara Zanchetta, Departamento de Estudos de Guerra, King’s College London, Reino Unido
Vladimir Putin esperava que a Ucrânia aceitasse passivamente as ações de seu vizinho mais poderoso, sem envolvimento significativo de outros países. Este grave erro de cálculo levou a um conflito prolongado, aparentemente sem fim à vista.
O inverno será difícil, pois os ataques russos à infraestrutura ucraniana vão tentar abalar o moral e a resistência de uma população já arrasada. Mas a resiliência ucraniana provou ser notável. Eles vão permanecer firmes. A guerra vai se arrastar. Continuamente.
As perspectivas de negociação são sombrias. Para um possível acordo de paz, as demandas centrais de pelo menos um dos lados precisam mudar. Não há evidências de que isso tenha acontecido ou de que vá acontecer em breve.
Como chegará ao fim, então?
Os custos da guerra, tanto materiais quanto humanos, podem abalar o nível de comprometimento da elite política russa. A chave estará dentro da Rússia.
Guerras passadas em que o erro de cálculo foi um elemento crucial, como no caso do Vietnã para os Estados Unidos ou do Afeganistão para a União Soviética, só terminaram dessa forma. As condições políticas internas mudaram no país que calculou mal, tornando a retirada de tropas — “honrosa” ou não — a única opção viável.
Isso só pode acontecer, no entanto, se o Ocidente permanecer firme em seu apoio à Ucrânia, diante do aumento das pressões internas ligadas aos custos da guerra.
Infelizmente, esta continuará a ser uma longa batalha política, econômica e militar de determinação. E até o final de 2023, provavelmente ainda estará em andamento.
Ben Hodges, ex-comandante geral do Exército dos Estados Unidos na Europa
É muito cedo para planejar um desfile da vitória em Kiev, mas todo o ímpeto está agora com a Ucrânia — e não tenho dúvidas de que eles vão vencer esta guerra, provavelmente em 2023.
As coisas vão acontecer mais devagar durante o inverno, mas não há dúvida de que as forças da Ucrânia vão lidar melhor do que as da Rússia por causa de todo o equipamento de inverno vindo do Reino Unido, Canadá e Alemanha.
Em janeiro, a Ucrânia poderá estar em condições de iniciar a fase final da campanha que é a libertação da Crimeia.
Sabemos pela história que a guerra é um teste de resistência e um teste de logística. Quando vejo a determinação do povo e dos soldados ucranianos e a rápida melhoria da situação logística da Ucrânia, não vejo outro desfecho a não ser uma derrota russa.
A retirada russa de Kherson me levou, em parte, a essa conclusão. Em primeiro lugar, como um incentivo psicológico para o povo ucraniano; em segundo lugar, como um profundo constrangimento para o Kremlin; e, em terceiro lugar, por dar às forças da Ucrânia uma vantagem operacional fundamental — todas as abordagens em relação à Crimeia estão agora ao alcance dos sistemas de armas ucranianos.
Vladimir Putin — Foto: Getty Images via BBC
Acredito que, no final de 2023, a Crimeia terá voltado totalmente ao controle e soberania ucranianos, embora possa haver algum tipo de acordo que permita à Rússia eliminar gradualmente parte de sua presença naval em Sebastopol… talvez até o final do tratado (aproximadamente 2025 ) que existia antes da anexação ilegal da Crimeia pela Rússia.
Esforços de reconstrução da infraestrutura ucraniana vão estar em andamento ao longo da costa do Mar de Azov, incluindo os importantes portos de Mariupol e Berdyansk, e a reabertura do Canal da Crimeia do Norte, que desvia a água do Rio Dnipro para a Crimeia, será outro projeto importante que receberá atenção.
David Gendelman, especialista militar baseado em Tel Aviv, Israel
Em vez de “como vai acabar”, aqui está o que cada lado gostaria de alcançar na próxima fase.
Apenas cerca de metade dos 300 mil soldados reservistas mobilizados da Rússia já estão na zona de combate. O resto, junto com as forças liberadas para ação após a retirada de Kherson, dá aos russos a oportunidade de lançar uma ofensiva.
A ocupação das regiões de Lugansk e Donetsk vai continuar, mas um grande avanço russo, como uma investida do sul até Pavlograd para cercar as forças ucranianas em Donbas, é menos provável.
Mais provável é uma continuação das táticas atuais — a destruição lenta das forças ucranianas em direções limitadas e um avanço lento, como nas áreas de Bakhmut e Avdiivka, com possivelmente as mesmas táticas na região de Svatove-Kreminna.
A mira contínua na infraestrutura de energia ucraniana, e outros ataques à retaguarda ucraniana vão completar esta estratégia de guerra de atrito.
Forças ucranianas significativas também foram liberadas após a retirada russa de Kherson. Para eles, a direção mais valiosa estrategicamente é o sul, para Melitopol ou Berdyansk, com o objetivo de interromper o corredor continental russo para a Crimeia. Isso seria uma grande vitória ucraniana, e é exatamente por isso que os russos estão fortificando Melitopol.
Outra opção para a Ucrânia é Svatove — o sucesso lá colocaria em risco todo o lado norte da linha de frente russa.
A grande questão é quantas forças ucranianas estão livres e disponíveis para a ofensiva neste momento, e que cronograma o general Zaluzhnyi tem em sua mesa dizendo quantas novas brigadas e corpos de reserva que estão sendo formados estarão prontos em um, dois ou três meses a partir de agora, incluindo recursos humanos, veículos blindados e armas pesadas.
Depois que a lama congelar, vamos ter a resposta para essa pergunta. E esta resposta nos deixará um pouco mais perto de “como isso vai acabar”.
Os analistas foram escolhidos por seu conhecimento militar e sua pluralidade de perspectivas.
Por: G1
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