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As relações entre os dois países azedaram, como ficou claro na resposta taxativa do presidente americano sobre um possível convite ao premiê israelense para visitá-lo na Casa Branca: “Não. Não no curto prazo.”
Bibi não foi dormir sem responder a Biden, em inglês e num tom desafiador. À 1h em Jerusalém, invocou, pelo Twitter, a soberania de Israel para tomar decisões “pela vontade de seu povo e não com base em pressões do exterior, inclusive dos melhores amigos.”
Peça-chave dessa aliança que joga Israel no campo da extrema direita, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, atiçou a discórdia entre velhos aliados: “Biden e seu governo precisam entender que Israel é um país independente e não apenas mais uma estrela na bandeira americana.”
A insistência do primeiro-ministro em tentar minar a independência do Judiciário — que o acusa em três processos de corrupção — ampliou a distância entre Israel e seu maior aliado externo. Biden deixou claro que está preocupado com a estabilidade da democracia israelense. “Eles não podem continuar por este caminho e eu deixei isso bem claro”, atestou.
A reforma judicial entrou no modo pausa, depois de uma greve geral e manifestações gigantescas deflagradas, no domingo, pela demissão do ministro da Defesa, Yoav Galant, que se opôs ao projeto. Com a suspensão temporária de seu projeto de governo, o premiê cogitou que o convite para uma visita a Washington viria automaticamente.
Nunca um governante israelense demorou tanto para ser recebido na Casa Branca como Netanyahu neste mandato que se iniciou há três meses, sob a égide do extremismo. Adiada a reforma, o embaixador americano em Israel, Tom Nides, se apressou a declarar que a viagem seria em breve. Logo depois, a Casa Branca esclareceu: não havia nada programado.
“Netanyahu se tornou a definição de ator irracional nas relações internacionais – alguém cujo comportamento não podemos mais prever e em cujas palavras o presidente Biden não deve confiar”, expressou o colunista Thomas Friedman, veterano especialista nas relações entre os dois países, no jornal “The New York Times”.
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O premiê está isolado diante de aliados tradicionais. Encarou a frieza de seus homólogos na Itália, na Alemanha e no Reino Unido, países que visitou enquanto os israelenses expressavam a raiva pela reforma judicial em andamento no Parlamento controlado por sua coalizão. Mas nada incomoda mais seus opositores — e agora também Netanyahu — do que a distância estabelecida pelo governo americano.
No sexto mandato em Israel, ele conviveu com diferentes estilos de presidentes americanos, não escondendo a preferência pelos republicanos. Com Trump, Netanyahu viveu momentos de glória: obteve benesses como a inauguração da embaixada em Jerusalém, o abandono do acordo com o Irã e outras concessões que enterraram qualquer projeto de acordo de paz com palestinos.
Como veterana raposa política que é, apressou-se a parabenizar Biden pela eleição em 2020, enfurecendo o antecessor, que bradava aos quatro ventos a imaginária fraude eleitoral nos EUA.
O atual presidente americano conheceu Netanyahu quando o premiê era apenas uma estrela em ascensão no Likud. Soube levá-lo e aparar as arestas entre Netanyahu e Obama. Quando era vice-presidente, Biden frequentemente ia a Israel interceder por Obama, que nunca escondeu a irritação com o primeiro-ministro e seu projeto expansionista nos territórios palestinos e a oposição ao acordo nuclear com o Irã.
Um microfone aberto em 2011 expressou o descontentamento do ex-presidente americano e seu homólogo francês, Nicolas Sarkozy, que chamava Netanyahu de mentiroso. “Você está cansado dele, mas quem tem que lidar com ele todo dia sou eu”, resumiu Obama. Biden parece compartilhar esse desgaste.
Por: G1
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