Levado ao limite pelas enchentes devastadoras do ano passado, o país do sul da Ásia tem reservas de apenas US$ 3,7 bilhões restantes – ou apenas o suficiente para três semanas de importações essenciais, enquanto as disputadas eleições estão marcadas para novembro.
O Paquistão precisa desesperadamente que o Fundo Monetário Internacional (FMI) libere uma parcela atrasada de US$ 1,1 bilhão, deixando outro US$ 1,4 bilhão restantes em um programa de resgate paralisado, com previsão para término em junho.
Embora uma missão de emergência do FMI tenha chegado ao Paquistão, não há garantias de saneamento das dívidas, em meio a um número crescente de dores de cabeça após a suspensão de desembolsos em novembro, que chegou a US$ 7 bilhões após as enchentes.
Uma desvalorização de 15% na rupia paquistanesa e um aumento na semana passada nos preços dos combustíveis podem ajudar a eliminar alguns obstáculos importantes, principalmente porque as medidas fiscais são aparentemente iminentes.
No entanto, a pressão está aumentando, pois o programa de resgate não pode ser estendido além de junho e as eleições se aproximam.
“Se eles não conseguirem esses fundos (do FMI), o risco de inadimplência aumenta materialmente”, disse Kathryn Exum, codiretora de pesquisa soberana do fundo especialista em dívidas em dificuldades Gramercy, que espera mais uma “redefinição do perfil” da dívida do que um “write-off” (termo em inglês para cancelamento das dívidas).
O ex-ministro das Finanças do Paquistão, Miftah Ismail, que negociou com sucesso uma extensão do programa do ano passado antes de ser demitido em meio ao tumulto político, também acha que o FMI é a única opção lógica.
“Se o FMI não entrar, estamos olhando para um calote”, disse Ismail, acrescentando que outro pacote de apoio, o 24º do país, seria necessário. “Não consigo imaginar o Paquistão não participando de um programa consecutivo do FMI.”
O principal adversário eleitoral do primeiro-ministro Shehbaz Sharif é o ex-astro do críquete Imran Khan, que foi afastado do cargo em abril passado, mas mantém a popularidade. Cada um culpa o outro pela crise, embora as finanças estejam tensas há muito tempo.
O primeiro-ministro paquistanês deposto Imran Khan durante comício com apoiadores em Lahore, capital do Paquistão — Foto: Mohsin Raza/Reuters
Com a relação dívida/PIB do Paquistão em uma zona de perigo de 70%, e entre 40% e 50% das receitas do governo destinadas ao pagamento de juros este ano, apenas Sri Lanka, Gana e Nigéria, atingidos pela inadimplência, estão em pior situação.
“Existe apenas um problema de endividamento de longo prazo”, disse Jeff Grills, chefe de dívida de mercados emergentes da Aegon Asset Management, que detinha títulos do Paquistão até as enchentes.
“É mais uma questão de quando eles precisam se reestruturar do que se (eles precisam se resstruturar).”
A maioria dos títulos do Paquistão ainda está sendo negociada por menos da metade de seu valor de face.
Tal reestruturação dos títulos do Paquistão representaria seu primeiro calote internacional desde 1999, de acordo com o Banco do Canadá-Bank of England Sovereign Default Database.
Com apenas US$ 8,6 bilhões em tais títulos, em comparação com os US$ 30 bilhões que o Paquistão deve à China, Ismail disse que Islamabad (capital do país) pode estar melhor “apenas indo para os países que devemos muito, ou para as instituições que devemos muito, e tentando obter mais alguns empréstimos de longo prazo.”
Sharif está otimista de que o FMI retomará os desembolsos. “Um acordo com o FMI, se Deus quiser, será feito”, disse ele em evento na semana passada em Islamabad. “Em breve estaremos fora dos tempos difíceis.”
Promessas de financiamento multilaterais e bilaterais para os esforços de reconstrução do Paquistão após as enchentes também dependem do sinal verde do FMI.
Mas mesmo os analistas domésticos acreditam que o governo vai achar as coisas difíceis, já que o FMI provavelmente exigirá um aperto de cinto significativo que certamente será impopular entre os eleitores que já enfrentam décadas de inflação alta e menos perspectivas de emprego.
Funcionários do FMI estão ansiosos para apoiar os países mais pobres e o Paquistão promete ser um parceiro crucial para o Ocidente, mas o pagamento fica mais complicado quando um programa está próximo do fim e um novo governo pode entrar e tentar romper um acordo.
Se os desembolsos não chegarem até junho, pode haver um intervalo de seis meses antes que o novo governo assuma o cargo, durante o qual o Paquistão ficará sem fundos, levando efetivamente sua população de 220 milhões ao limite.
A falta de reservas tornará muito difícil se manter à tona.
Apenas US$ 500 milhões em juros ou pagamentos de ‘cupons’ devem ser pagos sobre os títulos internacionais do Paquistão neste ano, mas o chefe do banco central disse que US$ 3 bilhões são necessários para atender aos pagamentos gerais da dívida externa.
O momento político também é crítico. Depois que o mandato do governo terminar em agosto, um governo interino especial assumirá o cargo por até 90 dias para garantir eleições livres e justas.
No entanto, o governo interino não tem poderes para assinar um pacto com o FMI, levantando a questão de saber se o governo e a oposição podem cooperar em uma promessa conjunta de impor quaisquer demandas do FMI a fim de evitar um calote.
“Se algo acontecer com o desembolso e depois as eleições atrapalharem, eles podem ter um problema”, acrescentou Kathryn Exum.
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