Além de votar em um dos oito candidatos que concorrem à Presidência, os eleitores decidirão o futuro de uma polêmica operação de perfuração de petróleo na floresta amazônica.
É um plebiscito sobre o destino do “Bloco 43”, um grupo de campos de exploração de petróleo localizados no Parque Nacional Yasuni, uma das áreas ambientais mais ricas do mundo.
Parque Nacional Yasuni é uma das áreas ambientais mais ricas do mundo — Foto: Getty Images via BBC
O Yasuni cobre mais de 1 milhão de hectares e abriga pelo menos 2 mil espécies de árvores e arbustos, 204 espécies de mamíferos, 610 espécies de pássaros, 121 espécies de répteis, 150 espécies de anfíbios e 250 espécies de peixes.
É também o lar de várias populações indígenas — incluindo pelo menos duas das últimas tribos “isoladas” do mundo — aqueles que voluntariamente recusaram a interação com o mundo exterior.
A perfuração ocorre no ‘Bloco 43’ desde 2016. Isso ocorreu após a tentativa fracassada do presidente Rafael Correa de garantir um pacote de compensação global para manter o petróleo no solo.
Segundo estimativas do governo, o ‘Bloco 43’ fornece 12% dos 466 mil barris de petróleo produzidos por dia pelo Equador.
Um em cada quatro equatorianos vive na pobreza, segundo dados do Banco Mundial.
Mapa mostra o parque nacional de Yasuni — Foto: BBC
O governo do atual presidente Guillermo Lasso, que desencadeou uma eleição antecipada em maio em uma tentativa de evitar processos de impeachment, diz que o fechamento das operações custará ao país US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões) por ano em receitas perdidas.
Mas organizações ambientais e de direitos indígenas dizem ser um pequeno preço a pagar.
“Os cidadãos equatorianos terão a chance de ajudar a proteger nosso meio ambiente e as comunidades que vivem em Yasuni”, diz à BBC Pedro Berneo, um dos líderes do Yasunidos, grupo ambiental que fez campanha por 10 anos pelo plebiscito.
“Esperamos que nosso exemplo inspire outros países a fazerem o mesmo.”
Para a líder indígena Alicia Cahuiya, da tribo Waorani, um dos povos indígenas que vivem em Yasuni, a reserva natural desempenha um papel crucial no combate às mudanças climáticas, ajudando a capturar o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.
“O Yasuni tem sido como uma mãe para o mundo… Precisamos levantar nossas vozes e mãos para que nossa mãe se recupere, para que não se machuque, não seja espancada”, disse ela à agência de notícias AFP.
Os cientistas também alertaram que a destruição da Amazônia, que se estende por oito países sul-americanos, inclusive o Brasil, está comprometendo sua capacidade de atuar como um “sumidouro de carbono”, absorvendo mais carbono do que liberando.
Pesquisas mostram que maioria dos equatorianos é a favor do “sim” para interromper produção de petróleo em parte do Parque Nacional Yasuni — Foto: Getty Images via BBC
Uma série de sondagens de diferentes institutos de pesquisa de opinião pública realizadas em junho e julho mostraram que a maioria dos equatorianos votaria pelo fim da exploração de petróleo — mas elas também mostraram que muitos eleitores ainda estão indecisos.
Mas nem todos os candidatos à sucessão de Lasso têm defendido abertamente o “sim”.
Luisa Gonzalez, a favorita na corrida presidencial, evitou tocar na polêmica durante a maior parte de sua campanha, mas quebrou o silêncio no início de agosto com uma declaração que deixou o campo anti-petróleo preocupado.
“Por que você não pede aos países que mais poluem que depositem US$ 1,2 bilhão em um fundo para nós?”, tuitou ela, antes de sugerir que aqueles que propuseram o plebiscito deveriam oferecer alternativas para gerar renda para o país.
Ex-ministra Luisa González, que lidera pesquisas de intenção de voto para presidência, deu a entender que é contra fim da exploração de petróleo — Foto: Getty Images via BBC
Advogada que já trabalhou na Petroecuador, a estatal de petróleo do país, González, de 45 anos, também atuou no governo do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) como ministra da administração pública.
Pesquisas de opinião indicam que ela não construiu uma vantagem grande o suficiente para evitar um segundo turno em outubro.
Seu rival mais próximo, o empresário Jan Topić, prometeu “manter o petróleo no subsolo” em Yasuni.
Amazon Frontlines, um grupo de defesa que apoia as comunidades indígenas, diz que o plebiscito é um momento histórico para as pessoas que vivem em um país produtor de petróleo.
“O modelo de capitalismo de combustível fóssil expirou e o povo equatoriano tem uma chance única de traçar outro caminho e dar um grande passo na luta para enfrentar a mudança climática”.
No entanto, outros dois blocos da Petroecuador na área não seriam afetados pela votação.
A polêmica também atraiu a atenção de celebridades como o ator de Hollywood Leonardo DiCaprio, bem como a ativista ambiental Greta Thunberg.
Mas Gabriela Patricia García García, da Universidade de Exeter, na Inglaterra, destaca que as preocupações com a segurança estarão em primeiro lugar nas mentes dos eleitores após o assassinato de um dos candidatos presidenciais.
“É importante lembrar que o petróleo ainda é a principal fonte de renda do país”, assinala.
“O resultado da é juridicamente vinculativo, então as atividades de extração de petróleo terão que parar”.
*Mas a prioridade atual na eleição é a segurança pública, então veremos como a questão Yasuni se desenrola.”
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