Ketisley explicou à equipe de reportagem que foi picada após colocar um tapete, que estava guardado na lavanderia da casa, no chão do quarto. Ela havia acabado de limpar o cômodo e deitou na cama para descansar. Neste momento, viu uma aranha-marrom subir na perna.
De imediato, a reação dela foi matar a aranha e tirar uma foto para tentar identificar a espécie. Em seguida, mesmo sem sintomas, a jovem foi até o Hospital Doutor Adhemar de Barros, onde tomou um antibiótico e foi orientada a tomar um remédio para dor.
No dia seguinte, Ketisley começou a ter reações fortes em decorrência do veneno da aranha. Os sintomas eram manchas vermelhas, dores fortes e coceira intensa pelo corpo. Ela foi internada no hospital no dia 9 de janeiro.
“Era uma dor que irradiava do local da picada e doía no osso. Não conseguia mexer direito e não conseguia andar”, explicou ela.
De acordo com a gestante, os médicos acionaram o Instituto Butantan e constataram que tratava-se de uma aranha-marrom. Ela afirmou, porém, que não recebeu o soro antiaracnídico.
Em nota, o Hospital Doutor Adhemar de Barros explicou à equipe de reportagem que a paciente não apresentava alterações no quadro clínico e, por este motivo, não entrou no critério do protocolo do Grupo de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo para receber o soro antiaracnídico.
Parte da pele de gestante ficou necrosada em decorrência do veneno da aranha-marrom — Foto: Arquivo pessoal
Para Ketisley, a maior preocupação era que acontecesse algo com a filha. “Eu fiquei com muito medo e tive crise de ansiedade no hospital com medo de afetar a bebê. Porém, foi feito ultrassom e graças à Deus estava tudo bem”, afirmou.
Depois, Ketisley ficou apreensiva na possibilidade de amputar a perna, que estava com parte da pele necrosada. Os antibióticos conseguiram diminuir e evitar o risco, mas não acabaram com a necrose. Por este motivo, ela está com uma cicatriz.
A gestante foi liberada três dias depois da internação, quando o quadro clínico foi normalizado. As dores, porém, continuam na região necrosada da perna.
“Essa casquinha de cicatriz de necrose é bem profunda. Eu já tentei tirar e não consigo. Ainda dói bastante se encostar nela”, finalizou.
O g1 entrou em contato com o Instituto Butantan, mas não teve retorno até a última atualização desta reportagem.
Aranha-marrom (Loxosceles gaucho) é uma aranha do gênero Loxosceles. — Foto: Domínio Público
O biólogo Daniel Bortone afirmou ao g1 que aranha-marrom (Loxosceles sp) não é uma espécie agressiva e não consegue picar humanos. “Os acidentes acontecem quando a pessoa espreme a aranha contra o corpo, assim ocorrendo a inoculação [introdução] da peçonha”, informou.
Segundo o biólogo, o recomendado é buscar atendimento médico caso seja picado por qualquer aranha. “Normalmente as pessoas tendem a achar que, por serem pequenas, essas aranhas podem não ser perigosas”.
Bortone ressaltou que a ação causada pela peçonha demora a mostrar os primeiros sintomas nos seres humanos.
“Quanto antes a pessoa tomar o soro, melhor. O que o acidentado deve fazer é lavar bem o local com água e sabão, beber bastante água e procurar atendimento médico imediatamente. Se possível, levar a aranha em um pote”.
Um estudo conduzido no Hospital Vital Brazil, do Instituto Butantan, publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, comprovou que o soro antiaracnídico é capaz de reduzir o risco de necrose na pele, causada pelo veneno da aranha-marrom, principalmente se aplicado nas primeiras 48h após o acidente.
Segundo o Instituto Butantan, a necrose no local da picada é uma das manifestações mais comuns do envenenamento. O estudo, segundo o Butatan, foi o primeiro a avaliar, em humanos, a capacidade do soro antiaracnídico de evitar necrose em casos de picada de aranha-marrom.
Uma pesquisa anterior com modelos animais havia mostrado que o antiveneno reduzia as lesões necróticas em 30%, mesmo sendo administrado 48h após a injeção do veneno.
Dicas para evitar acidentes com aranhas em casa:
- Sempre olhar roupas antes de vestir e toalhas antes de se secar;
- Bater os calçados para ver se não há nenhuma dentro;
- Evitar deixar o lençol e cobertas da cama encostando no chão, que elas podem usar para subir na cama;
- Vedar vãos de portas e janelas e buracos na parede casa.
VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos
Publicar comentários (0)