Bailarino de Praia Grande venceu o preconceito e a depressão através da arte e hoje sonha em dançar na Alemanha — Foto: Arquivo pessoal
Aos 16 anos, o bailarino Amauri Lopes, de Praia Grande, no litoral de São Paulo, conquistou uma vaga para dançar no Festival Tanzolymp 2023, em Berlim, na Alemanha. O jovem, que é autista e chegou a morar na rua com a mãe, viu a vida da família mudar após descobrir a dança. A vaga para o festival foi uma grande conquista para o bailarino, mas para ele a viagem ainda é sonho impossível devido às condições financeiras da família.
A mãe do jovem, Eliana Souza, conta que ela e o filho foram despejados do barraco onde viviam quando o menino tinha cinco anos. Na época, o dono do terreno vendeu o local. Sem ter para onde ir, ela e o filho foram morar em um aterro sanitário, onde permaneceram por seis anos. Depois, ela conta que conseguiu construir um ‘barraquinho’ dentro de um lixão em Praia Grande.
“Não tinha condições de pagar um aluguel. Eu tinha um carrinho grande [carroça de material reciclado] e montei um lugar para colocar o Amauri dentro e fui morar no lixão. Os usuários [de drogas] sempre me respeitaram e me deram a ideia de construir um barraco e um quartinho”, lembrou.
Amauri Lopes mora em Praia Grande e foi selecionado para dançar em um festival na Alemanha — Foto: Arquivo pessoal
Quando o garoto completou 10 anos, foi morar com a mãe em um conjunto habitacional. Nesta mesma época, um professor da escola onde ele estudava percebeu o talento que o menino tinha para a arte e sugeriu para Eliana que matriculasse o filho nas aulas de teatro no Complexo Cultural Palácio das Artes, administrado pela Prefeitura de Praia Grande.
Por conta do desenvolvimento do filho, que, segundo Eliana, não falava e vivia deprimido, ela procurou ajuda médica. Ela recebeu a notícia do diagnóstico. Amauri tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). ‘Ele era muito depressivo, não queria sair de casa e a arte ajudou na socialização’, disse.
Amauri começou a fazer teatro aos 10 anos de idade, e há cerca de três anos iniciou a dança. Hoje em dia, ele faz balé e jazz contemporâneo. E foi justamente nesta área que ele começou a se destacar e a ser premiado, vencendo também o preconceito.
Bailarino viveu na rua em Praia Grande e hoje sonha em dançar em festival em Berlim, na Alemanha — Foto: Arquivo pessoal
“Muito preconceito e muito sofrimento. Sofro até hoje. Não tenho condições de ir ao mercado fazer uma compra. O remédio dele custa R$ 400 e pouco. Quando ele vai para as seletivas e para os campeonatos, ele não usa o laudo médico, ele vai pelo mérito dele. Ele treina todos os dias até às 22h”, afirma Eliana.
Segundo a mãe, na última seletiva de bailarinos, ele se destacou como o melhor na presença de palco e conquistou uma vaga para dançar no Festival Tanzolymp 2023, que acontecerá em fevereiro, em Berlim, na Alemanha. O valor da viagem ficará em média R$ 15 mil.
Eliana começou a pedir ajuda para os amigos e começou a juntar dinheiro para conseguir arrecadar o valor em até três meses. Segundo ela, até o momento, conseguiu apenas cerca de R$ 70, e não foi possível ajuda pública ou um patrocinador.
“É um sonho. Ele chegou em casa chorando, falando: ‘é mãe, mais um sonho que vai ser jogado por água abaixo porque não temos condições’. A única coisa que tenho é uma televisão, mas está com defeito. Eu queria vender para ajudar a tirar o passaporte dele”, finaliza.
Amauri Lopes dança há 3 anos em Praia Grande e já ganhou diversos premiações — Foto: Arquivo pessoal
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